Delícias do acaso. Você. Nós.

Há um ano, eu “achei” estar vivendo o meu dia ou ano de sorte. Conheci o homem da risada mais gostosa que os meus ouvidos poderiam desejar. Aquela risada fez meu corpo estremecer desde a primeira vez que escutei, apesar dos “olhos tristes” e da máscara cobrindo praticamente seu rosto inteiro, a sua risada era como o cantar dos pássaros nas minhas manhãs. E para a minha sorte, ele também amou os meus olhos… (assim ele disse). Em duas semanas tomou coragem e adicionou meu número particular no telefone particular dele. Desde então, não paramos de nos falar. TODOS OS DIAS. TODA HORA. A CADA MINUTO. SEGUNDO. Foi surreal! Sim, eu estava encantada com a sua graciosidade, educação e os poucos áudios?  aaaah, aquela voz. Fiquei extremamente chocada com aquele sorriso. Eu não tinha noção do quanto era lindo, apenas imaginava. Os dias foram passando, as horas correndo – e eu nem percebia, porque as nossas conversas sempre começavam: “BOM DIA, MOÇA BONITA” e terminavam lá pelas 2h da manhã, quando um dos dois capotava em suas camas, na suas casa. Eu acabei ficando acostumada com as nossas conversas incessantes, das nossas afinidades e profissões distintas – (bem diferente). Ele era médico oftalmologista – cirurgião. Sabe, não era só “oi, tudo bem? Como foi o seu dia?” – era muito mais que isso. Ele estava aguçando a minha curiosidade a cada dia. Horas e horas de risadas, conversas que deixava com muito mais vontade de conhecê-lo. Sempre fui uma pessoa curiosa, mas daquela forma JAMAIS. Ao mesmo tempo que preenchia meu tempo, sentia que faltava algo. Algo que só ele tinha como responder. Mas aquele segundo mês, eu não deixaria passar as minhas perguntas. Eu sempre fui uma pessoa direta e reta. Não foi diferente: “Iai, você tem alguém?”… (silêncio absurdo da minha parte) e ele responde rindo: “Não. Sou extremamente solteiro”. Naquele momento meu coração até ficou em paz e continuamos a conversar e rir. Foi a melhor sensação até ali. Eu estava vivendo intensamente cada segundo e pela primeira vez coloquei na minha cabeça: “É ELE” “AGORA EU NÃO POSSO DEIXAR PASSAR”. E não deixei mesmo. Saímos. “

Aquela noite foi mágica. Conversamos muito. Rimos da nossa “timidez”. Bebemos a nossa tão esperada cerveja junto. Ele contou da sua vida – pai, mãe e irmãos e até mesmo medicina. Nada fora do comum o seu “pouco” tempo para coisas mundanas. Então eu sentei um pouco mais perto e ele colocou a sua mão sobre a minha (eu ainda não tinha sentido o toque delicado das suas mãos.) Aos poucos ele foi chegando mais perto, como se fosse colocar os lábios dele meus. Recusei. Nunca fui uma pessoa que gostasse de “beijar” em público (É MUITO SÉRIO – NUNCA GOSTEI). Ele sorriu e falou baixinho: “Eu respeito você, moça bonita que não gosta de beijar em público.” Eu sorri e ri. Conversa vai e vem, já se passava das 23:30 e no outro dia ele tinha cirurgia logo cedo. No caminho pedi para parar o carro perto de uma esquina pouco movimentada. Eu precisava fazer algumas perguntas. Lembro que vi um senhor tropeçar e então ele grita: “Preciso dar o meu cartão. Ele precisa de um especialista em catarata”. Eu ri. Ri muito pela espontaneidade das palavras. Sim, ele é médico oftalmologista especialista em catarata. Eu então comecei a sabatina: “Solteiro faz tempo?” “Já foi casado?” “Como é a sua rotina fora das clínicas?” Ele foi a respondendo e contando um pouco da sua história. E sim, ele já tinha sido noivo de uma médica, mas não entrou em muitos detalhes. O seu pai tinha alguns problemas de saúde. A sua mãe, uma pessoa tranquila e que vivia para os filhos – pelo visto ele era o favorito. O seu irmão mais novo, aparentemente dava um pouco de trabalho pelo motivo de entrar e sair dos cursos – não tinha terminado nenhum. O mais velho casado e não morava em SP. Bom, sobrou ele… saiu de casa quando começou a fazer faculdade e trabalhar – não gostava muito da vida nômade que os pais levavam. E naquele momento eu pensei: “A minha vida é bem equilibrada.” Talvez, naquele momento, a minha vida fosse tudo que ele já conhecia por conta do nosso “bom dia”, todos os dias… Gosto muito mais de ser ouvinte.

O perfume dele era bom, suave. O meu era de chocolate. Ele parou de falar, olhou bem fundo nos meus olhos. Aqui eu confesso que não queria recusar um beijo. Beijei. Que beijo… FOI UMA EXPLOSÃO DENTRO DE MIM. Explosão que nem eu mesma sei explicar, só sentia. É aquilo eu já não sentia desde 2019. Outro, outro, outro beijo… deitei a minha cabeça no seu colo e senti a sua mão fazendo carinho no meu cabelo – nos cachos e ele perguntava: “Posso carinhar todos os dias?” Eu fui ao céu e voltei. Mas eu, como uma boa geminiana, não deixei demonstrar – não ali. Apenas sorri e disse que gostaria de voltar para casa. Percebi que agora quem estava nervosa era eu… ele já estava muito tranquilo, seguro da sua atitude e das próximas… Chegando na rua de casa, pedi para não parar no portão – um pouco mais à frente. Feito. Olhei. Fui olhada e beijada novamente. Sorri e apenas disse: “Avisa quando chegar em casa.” Mal dobrou à esquina e chega uma mensagem: “Chegou bem em casa, rsrs? Sua mãe tá acordada? Perguntou alguma coisa? Foi bom me conhecer um pouco?”… Muitas perguntas e a conversa durou até às 2h da manhã novamente – como quase todos os dias. 6h da manhã meu celular toca, e era ele: “Só liguei para dizer bom dia e vamos conversando entre as cirurgias.” Que louco tudo isso. Era tão real… Na manhã seguinte, tudo novamente. Eu tinha um sorriso bobo, largo e um olhar brilhante que todo mundo perguntava: “Viu o passarinho hoje? “Queria muito dizer para todo mundo quem era aquele passarinho que tinha um sorriso branco feito neve, cabelo liso e preto com o melhor abraço do mundo… Mas eu apenas sorria. Eu só conseguia sorrir. Ele estava sendo a parte mais importante da minha vida naquele momento. Como eu queria dizer tudo que estava sentindo – só dava a entender e os dias foram passando…passando, até que a minha angústia retorna e eu penso: “É hora de dizer a ele sobre o meu incômodo.”

Segunda-feira, eu muito quieta e respondendo com palavras básicas as coisas que ele perguntava ou contava. 1 hora de silêncio e então… soltei tudo: “Mais uma vez, fala a verdade. Nada vai mudar entre nós, mas eu preciso da verdade.” E mais uma vez: “Não existe nada. Eu já contei tudo…” (silêncio). Não era o que meu coração gritava – e por sinal, eu estava bem envolvida. Então, resolvi usar o meu lado “advogada” na situação: VASCULHAR A VIDA DELE. Eu juro que não faço isso NUNCA, só que aquela situação estava matando os meus dias. A minha intuição estava gritando, pedindo socorro…

Dia 1: NADA. Eu acho que estava muito nervosa, querendo uma justificava para minha intuição ou paranoias: “UM CARA LEGAL, BEM-SUCEDIDO, EDUCADO, GENTIL… E COM UM SORRISO MARAVILHOSO SOLTEIRO? TEM ALGUMA COISA MUITO ERRADA OU EU REALMENTE ESTOU LOUCA.”

Dia 2 – Achei processos referente a indenização: “Fulano de tal, será ressarcido em (xpto) valor referente ao apartamento localizado na rua (xpto).” Pensei: “Pelo menos ele tem nome em algum processo. Já sei o seu local de moradia e o motivo do processo.” Até aqui nada de ruim. Parei de vasculhas? JAMAIS!

Dia 3 – Redes sociais – ele não tem, mas os amigos sim. Lembrei que tinha na receita com o nome do anestesista. BINGO. Achei o amigo e a sua esposa. “Ok, ele é bem relacionado.” “Eu estou surtando…” – e a minha intuição: “CONTINUA PROCURANDO.”

Dia 4 – Encontrei uma amiga de residência… dela encontrei outra. BINGO. Observei um nome: Sayonara. Bingo mais uma vez.

Até o dia 4, falei muito pouco. Quase nada. Encontrei na página da amiga dele, “Sayonara” uma foto de casamento que tinha ocorrido há pouco meses. Observei e achei ele com uma moça… e claro, era a tal médica que ele tinha dito ter sido noivo. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Continuei mantendo contato MÍNIMO. Ele percebeu. Deixei perceber mesmo. O pior estava chegando… A gente literalmente “foi um do outro” durante 5 meses. Pode ter certeza, não foi fácil. Eu só queria entregar aquele furacão de sentimentos a ele, e simplesmente achar que eu realmente estava “louca”…, mas eu não estava. Eles reataram há 1 mês. E reataram para se casar…

(NESTE EXATO MOMENTO, EU NÃO SEI SE CONSIGO CONTINUAR ESCREVENDO)

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